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Especial com Alcivando Lima – SÓ O POVÃO?

“O pessimista é uma pessoa que, podendo escolher entre dois males, prefere ambos”. Oscar Wilde – 1854/1900 – Poeta, escritor, dramaturgo.

Vieram, sem exceção, do fim da primeira metade do século passado. Depois de renhidas lutas com as adversidades, chegaram ao atual patamar da vida para ver o progresso dos filhos e ter um mínimo de um restinho de vida decente. Acostumaram a vivenciar o modus vivendi dos irrequietos, de espírito aventureiro que, como dizia minha avó, em vez de mamar, comeram pé de cachorro e todas as manhãs se embrenham nas idas e vindas à sua predileta padaria, farmácia, boteco e praça pra falar mal do governo, jogar dominó e conversa fora. Também, a vovó, lindinha, toda arrumadinha pras missas dominicais, pros chás das cinco, pras quermesses e, claro, toda bonitona, para o passeio semanal aos shoppings com amigas ou mesmo sozinha, almoçar e degustar um sorvete diet ou, com ares de um enólogo, comprazer-se com uma taça de vinho chileno.

Isso, entretanto, era antes do covid-19. Atualmente, os carinhosos filhos os estão amoitando da sinistra e fatídica caveira que, encapuzada, caminha debaixo duma capa preta à cata de suas presas e, quando avista alguma dando sopa, zipt, fere-a com sua foice e pulveriza sua vítima com o vírus letal e, por falta de pessoal e adequação do sistema de saúde, o serviço médico escolherá quem vai viver. Ô realidade doída! Ajude-nos, meu Jesus Cristo!!

Veleidades essas quebradas pelo meu vizinho que de lá me gritou: Já vacinastes? Se não, é bom lembrar-se de não esqueceres que tens de levar gêneros alimentícios para doação, visse?

Agradeci com mesuras gesticuladas ao tempo que me indignei e quase que lhe grito de cá: — Uai, só nós, o povão? Porque não pressionam os socialites, os trustes, as construtoras, lojas de eletrodomésticos e eletrônicos, os bilionários do futebol e da música em geral, (não é pra fazer show, é pra doar grana mesmo) — só não o fazendo por receio dele engrossar a veia do pescoço e arrematar me mandando usar cautela e continuar tomando caldo de galinha que, além de nutritivo, conserva os dentes, mesmo que postiços. Também, possa ser que ele carregue um aparelhinho que transmite ao serviço secreto do governo as opiniões do sujeito e também possa ser, Deus me livre, que eu já esteja na lista dos maus encarados que ta precisando de uma correçãozinha. Mas, antes que me joguem na masmorra, é mister registrar que sou ávido leitor de jornais, revistas, livros  e vejo, mesmo causando-me um efeito soporativo, um ou outro noticiário nos canais de tevês e não me lembro de ver e ouvir — também possa ser que esteja mouco e com degeneração macular relacionada à idade — que bancos e os demais estão fazendo isso ou aquilo em prol da derrocada do covid-19. As autoridades médicas e sanitárias não constataram em mim comportamento inapropriado de estar caindo ou tropeçando com freqüência e muito menos hipersexualidade. Reconheço pessoas, objetos e não perdi a empatia. Com sua licença, João Ubaldo Ribeiro, vou te copiar: Alguém aí me diga como se pronuncia xeretice em Mundurucus!

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Alcivando Lima - Opinião Leitor

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