Compreenda a relação entre pleno emprego, inflação e juros do Banco Central

O Banco Central (BC) do Brasil tem demonstrado preocupação com o controle da inflação, especialmente em relação ao nível de emprego e salários. Em um comunicado recente, o Comitê de Política Monetária (Copom) destacou as pressões nos mercados de trabalho globais como um fator que influenciou a decisão de desacelerar a redução dos juros básicos da economia. O Copom também observou que o mercado de trabalho brasileiro está mais dinâmico do que o esperado.

Para explorar a relação entre pleno emprego, inflação e juros do BC, a Agência Brasil entrevistou quatro professores de economia de diferentes correntes de pensamento, desde os mais liberais até os mais heterodoxos. A relação entre emprego, salários e inflação tem sido um ponto central nas discussões sobre a taxa de juros no Brasil. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que, embora o pleno emprego seja desejável, há preocupações de que o aumento dos salários possa gerar inflação.

“A preocupação surge quando as empresas têm dificuldades para contratar e precisam aumentar os salários. Se os salários sobem sem um aumento proporcional na produção, isso inicia um processo inflacionário”, explicou Campos Neto em entrevista à CNN Brasil, gerando críticas de políticos e analistas.

Nesta semana, o BC reduziu o ritmo de corte da taxa básica de juros. Após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual, os diretores votaram por 5 a 4 para reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto, para 10,5% ao ano. A decisão, embora esperada pelo mercado financeiro, foi criticada por políticos do governo e por setores do comércio e da indústria, que esperavam uma queda maior. Atualmente, o Brasil tem a segunda maior taxa real de juros do mundo, atrás apenas da Rússia, segundo o site MoneYou.

A taxa básica de juros, definida pelo BC, influencia outras taxas de juros, como as dos bancos, afetando também a atividade econômica do país. Juros mais altos desestimulam investimentos na produção, impactando o emprego e a renda.

O professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo, explicou que a relação entre pleno emprego e inflação está fundamentada na teoria da curva de Phillips, que sugere que, quando o desemprego cai, a inflação tende a subir, e vice-versa. Segundo Bergo, níveis historicamente baixos de desemprego podem pressionar a inflação devido ao aumento dos salários, uma vez que a oferta de trabalho se torna escassa.

Bergo destacou que o consumo gerado pelo aumento de renda pode elevar a inflação ao aumentar a demanda enquanto a oferta permanece constante. “O BC observa se o pleno emprego é suficiente para explicar o aumento dos preços”, disse. Outras variáveis, como o valor do dólar, o preço das matérias-primas e os juros do Banco Central dos Estados Unidos, também são consideradas pelo BC.

A professora de economia da UnB, Maria Lourdes Mollo, afirmou que o Brasil está longe do pleno emprego e criticou a visão conservadora do BC. Segundo ela, essa perspectiva não leva em conta que o aumento da produção pode compensar as pressões inflacionárias geradas pelo crescimento da demanda. “A médio prazo, o impacto é o aumento da produção e a contenção do crescimento dos preços”, argumentou.

Maria Mello de Malta, professora de economia política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), compartilha visão semelhante. Ela acredita que menor desemprego e maiores salários não necessariamente geram mais inflação, pois o aumento da produção pode atender à demanda crescente. “A relação entre inflação e desemprego só se sustenta se todos os recursos estiverem empregados”, explicou.

Mauro Sayar, professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressaltou que a preocupação com o aquecimento do mercado de trabalho é comum entre os bancos centrais. Ele explicou que o problema ocorre quando os salários crescem mais rápido que a produtividade do trabalho, o que pode gerar inflação. Segundo Sayar, a taxa estrutural de desemprego no Brasil gira em torno de 8%, e quando fica abaixo disso, há risco de pressões inflacionárias.

A taxa de desemprego no Brasil fechou o primeiro trimestre em 7,9%, tendo atingido 7,4% no final de 2023. Sayar defendeu a postura prudente do BC, alertando que a inflação fora de controle pode causar danos estruturais à economia. “Se o BC vacilar, a inflação sobe e o custo de controlá-la depois é muito maior”, concluiu.

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