Funcionários do IBGE realizam paralisação de 24 horas contra criação de fundação privada
Goiânia, 15 de outubro de 2024 – Funcionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizaram nesta terça-feira (15) uma paralisação de 24 horas, em protesto contra uma série de decisões da presidência do órgão, atualmente ocupada pelo economista Marcio Pochmann. A principal crítica dos servidores é a criação da fundação pública de direito privado, chamada IBGE+, que poderá vender pesquisas ao mercado privado. A categoria também organizou um ato na região central do Rio de Janeiro para manifestar suas insatisfações.
Segundo Bruno Perez, diretor do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE, a criação dessa fundação compromete a autonomia do IBGE e a confiabilidade das pesquisas produzidas pela instituição. Ele critica a falta de diálogo e o sigilo na criação da fundação.
“Fomos informados sobre a criação da fundação apenas dois meses depois de ela ter sido registrada em cartório, sem qualquer consulta aos servidores. Avaliamos que isso traz muitos riscos. O IBGE é uma instituição com quase 90 anos de história e reputação. A criação da IBGE+ é um passo em direção à privatização, já que permitirá a venda de pesquisas para o setor privado, além de contratar funcionários sob o regime da CLT, diferente dos servidores estatutários. A estabilidade no emprego é essencial para a produção de dados confiáveis, como taxas de desemprego e inflação, que muitas vezes podem desagradar governos. Essa nova fundação coloca em risco a independência do IBGE e a qualidade das estatísticas que orientam políticas públicas no país”, afirmou Perez.
Outras demandas e ameaças de greve
Além da crítica à criação da IBGE+, a paralisação também protestou contra a possível transferência da unidade do IBGE, atualmente localizada na Avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro, para o prédio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), no Horto. O sindicato classifica essa e outras decisões como autoritárias, e acusa o presidente Marcio Pochmann de não dialogar com os servidores ou outros membros da diretoria.
Caso não haja abertura para negociação, os trabalhadores consideram a possibilidade de convocar uma greve por mais dias, a ser decidida em assembleia na próxima semana.
Resposta do IBGE
Em nota oficial, a direção do IBGE afirmou que não foi notificada formalmente sobre a greve de 24 horas, e que soube da paralisação apenas pela imprensa. A instituição citou a Lei de Greve (Nº 7.783, de 28 de junho de 1989), que exige a comunicação prévia da paralisação com no mínimo 72 horas de antecedência.
A direção também comentou as críticas à criação da fundação IBGE+. Em nota emitida na segunda-feira (14), o órgão afirmou que as limitações orçamentárias enfrentadas exigem a reorganização das relações público-privadas no instituto. A nova fundação, segundo o IBGE, permitirá o recebimento de recursos para projetos em parceria com ministérios, bancos públicos e autarquias, que atualmente são limitados por questões legais.
Análise crítica
A criação da fundação IBGE+ suscita debates sobre a independência do IBGE e o impacto que a privatização parcial pode ter na produção de dados confiáveis. A paralisação dos servidores revela preocupações sobre o risco de perda de autonomia e a vulnerabilidade de estatísticas fundamentais para o planejamento de políticas públicas. O diálogo entre a direção do IBGE e os servidores será crucial para evitar uma crise de confiança em uma das principais instituições de estatística do país.