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Especial com Alcivando Lima – QUERO VER E OUVIR

“Guerra, peste e carestia estão sempre em companhia.” (Provérbio português).

— Chico, tu já reparastes que toda vez que a gente liga a televisão topa-se com lindas negras, loiras ou morenas mostrando uma beleza harmoniosa e delas emanando, tenho certeza, inebriantes fragrâncias feminis? Lindas de morrer seguram elegantemente um tomate numa mão e na outra um microfone informando que o custo de vida está pela hora da morte, tudo creditado à pandemia do covid-19, da Rússia atacando a Ucrânia e do excesso ou falta de chuva e do preço internacional do petróleo.

— Tá, Mané, se não tem pandemia, chuvarada, seca, guerra e petróleo, os manda-chuvas arrumam outro motivo e tacam chumbo-grosso na nossa cacunda. Meu coração fica tiquetaqueando quando elas, sob um prisma cor de rosa, nos advertem que a gasolina, a guerra e a pandemia são culpadas pela carestia desenfreada dos alimentos, mas, não se acomode não, pois já anunciaram novo aumento para a próxima semana.

— É o que dizem, Chico. Contaram-me também, que é de quase dez metros por segundo ao quadrado a velocidade dum corpo em queda livre.

— Velocidade dum corpo?… Mas, o que isso tem a ver com a carestia?

— Os tubarões superam isso, cara! Quer ver? Anuncie que o Putin mandou o Joe Biden ir praquele lugar ou vice-versa, e o preço do petróleo sobe numa velocidade de quinze metros por segundo ao quadrado. Agora, divulgue que houve queda de preço e os ouvidos dos barões entram em apressada e irritante surdez. Atente-se para o que está acontecendo com gás de cozinha.

— É, existe um conluio entre eles, um Omertà brasileiro. Não quebrar juramento e caldo de galinha, faz bem pra saúde mental e conserva os dentes.

— Chico, estou doidim para ouvir uma verdade verdadeira dessas lindezas de bocas carmesins, pois, acredite, o que essas beldades de Olhos morenos molhados de mar, (fragmentos do Conto de Areia, poema que roubei do poeta/compositor Romildo Bastos na voz de Clara Nunes) falam tem força gravitacional. Além de lindas, são talentosas, cultas e versáteis, porém, existem barreiras que as impedem de serem pragmáticas e se tornam mensageiras da barbárie e nada de enfatizar que são as más ações de quem tem o poder decisório nas mãos e não o utiliza e isso estimula os tubarões a continuarem nos arrochando; desejo muito ouvir e ver uma dessas garbosas encantoar um morubixaba do executivo, do legislativo ou do judiciário, rebatendo, com astúcia e conhecença, as desculpas previamente elaboradas onde reafirmam que a crise econômica no mundo é conseqüência da guerra, da covid ou da chuva; quero ver e ouvir o veemente rechaço ao argumento desse poderoso que subverte a oração de São Francisco dando uma banana pelo muito que recebe; quero vê-las e ouvi-las contradizendo-os e afirmando que a crise econômica é resultado da ganância desembestada pelo lucro; quero vê-las e ouvi-las indicando que a solução é recuperar o que foi surrupiado (trancafiando os patifes) e aplicá-lo na educação e bem estar do povo, isso feito, a miséria e a ignorância não terão vez e povo instruído, cuidado e alimentado não abre espaço para os demagogos; quero vê-las extravasando domínio de quem sabe que tudo que é produzido pelos trabalhadores é degustado com vinhos pelos poderosos, sobrando, às vezes, um ossinho mixuruca para os milhões que ostentam a infeliz cara de que foi trancado do lado de fora da vida.

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Alcivando Lima - Opinião Leitor

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