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Especial com Alcivando Lima – MINHA VACINA, JÁ!

“Os loucos às vezes se curam. Os imbecis nunca”. Oscar Wilde

Há meses que vejo na tevê umas máquinas fabricando vacina contra covid19 iguais às de filmes de ficção. Fixar os olhos no movimento sinuoso daqueles vidrinhos tonteia a gente e sugere gado tocado pro curral. São tão mostrados que as imagens grudam na memória e a gente acorda escoiceando o ar tentando escapar daquelas agulhas que enchem duzentos vidros de uma vez só. Circunspectos, homens e mulheres nem piscam ao ver aquela agulha de metro e meio se enterrando no pulso ou na veia. É sabido que muito neguinho metido a galo de terreiro delira, tremelica, tremula e até desmaia se mijando todo no enfrentamento com uma enfermeira empunhando uma seringa e agulha, traduzidos em fuzil e sabre, a falar manhosa: — Chegou a hora, queridinho! Na-na-ni-na-não, popinha não, é esse pulsão lindão que eu quero, isso, isso, barriguinha malhada, heim?— e avança no seu corcel brandindo uma lança de três metros, arma que fará munha do adversário.

O choque, a agulhada estraçalhando suas carnes é infinitesimalmente menor que a desgraceira em que você se transformará ao contrair o coronavirus. É por isto e por lampejos de sensatez que entrego a rapadura e digo ao povo que aceito o conselho dos médicos, dos amigos, parentes e aderentes e que estou disposto a peitar esta batalha. Mas, de repente, alguém me cutuca a costela advertindo que devo acordar e, apatetado, me dou conta que estou no meio dum tiroteio, numa guerra esganiçada, fratricida, donde presidente, generais, almirantes, governadores, ministros, gentes que governa e manda na gente se digladiando entre si pra ver quem é o atarantado que estraçalha o outro primeiro e que não tem essa de vacinar ninguém sem minha ordem não, ta ouvindo? Confisco tudo e muito mais. Ademais, como vacinar se nem vacina e nem seringas temos? — Disse-o uma alta funcionária de semblante inatacável.

Tudo bem — retruco de cá — Sei da pouco valia que temos, mas é preciso ter dó da gente, estamos amoitados há quase oitenta meses, borrando de medo ao ver esses espinhos assassinos dançando na TV; já não agüento mais ver cara feliz de americano, inglês e russo chutando o mundéu de vacina na sua frente. É preciso sair dessa lentidão exasperante e falar-nos, polidamente: Toma aqui sua vacina e goze os prazeres da vida e não nos emparedar com um: Assina aqui este documento que me isenta de toda responsabilidade no presente e no futuro e, caso venha a ter uma sapituca ao pressentir que a onça vem beber água, o degas aqui não tem nada a ver com isso, ta ok? E esclarecido fica, também, que é o Seu que está na mira da seringa, está na mira dos mísseis, na mira da catapulta, do estilingue, da flexa incendiária, na mira do canhão e da ogiva nuclear chinesa e não o Meu! Tamos entendido?

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Alcivando Lima - Opinião Leitor

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