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Especial com Alcivando Lima – EIS SE NÃO QUANDO

“A estultícia de uns provoca e suscita a velhacaria em outros”. Marques de Maricá

Dormia um sono sublime e num sorriso colorido, saltitava de estrela em estrela sob um luar que velava aquele doce adormecimento, conjeturando um poder incomensurável. O sonho materializava-se e, entontecido, manipulava milhões de almas com sua voz grave, pausada, elevando cânticos aos céus, com claras intenções de dar o melhor de si ao longo da vida. A maioria dos meninos da sua geração se imbricava nas coisas mundanas. Ele se superpunha nas graças Divinas e internou-se nas lides religiosas e se tornou presbítero voando para o velho mundo e mestre se fez nos dogmas eclesiásticos das academias europeias. Sua figura emblemática lhe carreava créditos na massa crédula, ávida de resultados imediatos de quem abocanha um X-burguer de mil calorias acompanhado de um, dois, três litros de água gaseificada misturada com açúcar, sal e gordura. Sua eloquência elegíaca e o fulgor dos seus olhos nivelavam-se às figuras dos beatos e veneráveis cultuados com um fervor cego, numa liderança imbatível de vendas de suvenires, fotos, rifas e carnês mensais para assegurar um lugar na bem aventurança. Suas falas flamejantes, sua opinião e suas preces eram a senha para cutucar a mudez dos céus. Sua devoção ao Pai conferia-lhe o condão de quadruplicar aquilo que ele tocasse e suas prédicas reverberavam nos estúdios de rádio e televisão e nas missas campais tal a aglomeração de pessoas que não cabiam nos templos cristãos. Moçoilas, matronas e marmanjos se estremeciam quando seu vozerio de barítono trovejava pelos ares e o sopro morno expelido da garganta daquele santo, vituperava contra as mazelas, as iniquidades, concitando ao combate contra o mal. Queria, fervorosamente, fazer o bem àqueles que padeciam de males físicos e espirituais, oferecer todos os cuidados, medicamentos, alojamento e serviços médicos, ampliar as instalações físicas, adquirir equipamentos de última geração e ter laboratórios manipulados por dedicados cientistas. Mas, cadê o dinheiro? Não o temos? — Deixem comigo, vou à cata. E, com cara de gente bem nutrida suplicou clemência ao Pai, rogou aos pecadores dinheiro e mais dinheiro para a construção de um novo templo, dinheiro e mais dinheiro para salvar as almas das garras do satanás e uma montanha de dinheiro se formou e eis senão quando belzebu se materializa para aquela alma ímproba e, numa fecunda voluptuosidade cochicha ao seu ouvido: Bora pra gandaia gastar a bufunfa, bora comprar canais de tevê, fazendas, gado, mansões, avião, apartamentos, o diabo a quatro e pagar amantes. Ma…ma…mas — tartamudeou o bom samaritano — Esse dinheiro não é meu, é dinheiro para construir um novo templo, ampliar hospitais, é dinheiro suado dos fieis. Deus vai te castigar e te condenar ao inferno!

— Ah! é? — Galhofou o tinhoso, com seu odor putrefato — Os marajás, sultões, czares e paxás, os espertalhões com graduação e pós-graduação, os doutores e pós-doutores, os reis, rainhas, princesas e príncipes que mandam no pedaço tão te esperando para fazer a rachadinha, ta me entendendo?

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Alcivando Lima - Opinião Leitor

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