Mesmo com mais mulheres no mercado, Brasil mantém desigualdade salarial de 20% em 2024 — e governo ignora mudanças estruturais

Relatório oficial aponta que mulheres seguem recebendo menos que homens em todos os níveis, e mulheres negras seguem invisíveis para políticas públicas

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O Brasil manteve em 2024 uma das mais graves distorções estruturais do mercado de trabalho: mulheres seguem recebendo, em média, 20,9% a menos que os homens, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (7) pelos Ministérios do Trabalho e da Mulher. O dado se mantém praticamente inalterado nos últimos três anos — e escancara o fracasso do Estado em corrigir uma injustiça histórica.

O relatório analisou mais de 19 milhões de vínculos empregatícios formais, em 53 mil empresas com 100 ou mais funcionários. Homens receberam, em média, R$ 4.745,53, enquanto as mulheres ficaram com R$ 3.755,01. Mulheres negras, ainda mais invisibilizadas pelas políticas públicas, ganham R$ 2.864,39 — menos da metade do que homens brancos.

No topo das empresas, desigualdade se agrava

A diferença se amplia nos cargos de alta gestão, onde mulheres ganham 26,8% menos do que homens. Mesmo entre profissionais com nível superior completo, a defasagem salarial entre os sexos chega a 31,5%, evidenciando que nem formação acadêmica elimina o viés estrutural.

A ministra da Mulher, Cida Gonçalves, reconheceu que a desigualdade persiste por falta de “mudanças estruturais”, mas não apresentou medidas concretas de enfrentamento, o que reforça a crítica de que o governo prefere discursos a ações efetivas.

Mais mulheres trabalhando, mas ainda ganhando menos

Entre 2015 e 2024, o número de mulheres empregadas saltou de 38,8 milhões para 44,8 milhões, um crescimento de 6 milhões de postos. Já os homens ocupavam 53,5 milhões de vagas em 2024. Mesmo assim, a massa salarial feminina evoluiu pouco, variando de 35,7% para 37,4% em quase uma década.

Segundo a subsecretária do MTE, Paula Montagner, isso ocorre porque “as remunerações das mulheres continuam menores, mesmo com maior participação no mercado”.

Mulheres negras: avanços tímidos e desigualdade brutal

Houve um crescimento na contratação de mulheres negras, passando de 3,2 milhões para 3,8 milhões entre os relatórios. E o número de empresas com menos de 10% de mulheres negras caiu de 21,6 mil para 20,4 mil. Mas, na prática, elas seguem sendo o grupo mais penalizado pela desigualdade, com média salarial 52,5% inferior à dos homens não negros.

O relatório também estima que, se houvesse igualdade salarial real, o Brasil teria injetado R$ 95 bilhões a mais na economia em 2024 — valor superior ao orçamento anual de muitos ministérios.

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