O uso de um portal oficial do governo para divulgar uma pesquisa eleitoral favorável ao vice-governador Daniel Vilela (MDB) despertou questionamentos sobre a legalidade da ação. O levantamento, publicado no site da vice-governadoria de Goiás, destacava a liderança de Vilela na corrida pelo Palácio das Esmeraldas em 2026 e foi retirado do ar após repercussão negativa.
A divulgação levanta suspeitas de abuso de poder e improbidade administrativa, podendo ser alvo de investigação do Ministério Público. A legislação brasileira proíbe o uso de meios institucionais para promoção pessoal de agentes públicos, especialmente em contextos eleitorais.



Conteúdo da publicação gera questionamentos jurídicos
O artigo publicado no portal do governo não apenas apresentava os números da pesquisa, mas também continha termos elogiosos ao vice-governador, o que pode ser interpretado como promoção política indevida.
De acordo com o levantamento do Goiás Pesquisas, Daniel Vilela liderava a disputa pelo governo estadual com 26,12% das intenções de voto, abrindo quase dez pontos de vantagem sobre o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), que aparece com 16,75%.
A pesquisa foi realizada entre os dias 12 e 14 de fevereiro de 2025, com 1.003 eleitores entrevistados e margem de erro de 3,3 pontos percentuais. O estudo também apontava a deputada federal Adriana Accorsi (PT) em terceiro lugar, com 11,37%, seguida pelo senador Wilder Morais (PL), com 9,87%.
Além dos dados numéricos, o texto enfatizava que Daniel Vilela se consolidava como “o nome mais forte da base governista”, reforçando sua ligação com o governador Ronaldo Caiado (UB). A linguagem utilizada na publicação reforça as suspeitas de uso da máquina pública para autopromoção, prática que pode configurar campanha eleitoral antecipada.
Vice-governadoria remove publicação e alega “erro individual”
Após a repercussão negativa, a vice-governadoria retirou a publicação do ar e divulgou uma nota oficial alegando que o texto foi “inserido erroneamente” no portal. O comunicado afirmava que o site é “destinado exclusivamente à divulgação de ações institucionais” e que o episódio foi resultado de um “erro individual”.
Entretanto, a justificativa não foi suficiente para afastar as críticas. Especialistas alertam que o episódio pode ser enquadrado como violação dos princípios da administração pública, como os da impessoalidade e moralidade, previstos no artigo 37 da Constituição Federal.
Uso da máquina pública e possíveis implicações legais
O caso reacende o debate sobre o uso indevido de recursos estatais para favorecimento político, uma prática que já gerou condenações em outros governos estaduais e municipais pelo país.
Segundo a legislação vigente, a Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92) prevê punições para gestores que utilizam bens e recursos públicos para fins pessoais ou políticos, incluindo perda da função pública, suspensão dos direitos políticos e multa. Além disso, a legislação eleitoral veda a propaganda institucional que beneficie candidatos ou pré-candidatos em ano eleitoral, com risco de sanções que podem incluir a inelegibilidade.
Ministério Público pode abrir investigação
Diante das suspeitas levantadas, cresce a expectativa de que o Ministério Público Estadual (MP-GO) possa iniciar uma apuração formal para investigar se houve irregularidades no uso da estrutura governamental. Caso a investigação avance, membros da gestão podem ser responsabilizados judicialmente.
O episódio destaca a necessidade de maior fiscalização sobre o uso de canais institucionais para finalidades eleitorais, garantindo que a máquina pública seja utilizada exclusivamente para ações governamentais, sem interferências políticas.
O Jornal Opinião Goiás seguirá acompanhando o desenrolar do caso e possíveis medidas que venham a ser adotadas pelos órgãos de controle.