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Especial com Alcivando Lima – TEMPOS IDOS

“Quando se ouve boa música, fica-se com saudade de algo que nunca se teve e nunca se terá”. Samuel Howe – 1801/1876 – (médico e abolicionista norte-americano).  

É sabido que gente talentosa consegue transmutar, para os simples mortais, algo que os deixam em êxtase e os fazem sonhar acordados. Prova disso é ouvir “Alwys In My Heart”. Sua versão, brilhantemente entoada pelos nossos fulgurantes, prendados e bem-sonantes Dalva de Andrade, Antonio Marcos, Orlando Silva, Waldick Soriano, Francisco Petrônio eternizou-se como “Sempre no Meu Coração”.

Nas manhãs dos domingos, aquartelávamos na Praça Cel Joaquim Lúcio para nos deleitarmos com a beleza feminina das internas do Colégio Santa Clara desfilando em seus uniformes que chegavam ao tornozelo, torcendo para uma lufada drapejar uma saia e nos mostrar um joelho redondinho, um ângulo das coxas ou, (milagre de um santo vouyer), uma sacanagem dalguma coleguinha que, sorridente, arribava a saia de quem estava à frente, (oh! santa voluptuosidade) e o branco imaculado duma calcinha grudava nas nossas retinas, despertando-nos altas lascívias. Esses momentos de pleno êxtase existem nos locais mais recônditos de nossas mentes, assim como nos marcaram o dobrado dos sinos prenunciando sacras missas ou compungentes comunicados de falecimento. A tarde vinha com as matinês dançantes e a noite o baile num salão ricamente decorado por mãos habilidosas. Velada disputa se travava para ver quem bailaria com a lindíssima fulana, a mais bela, cheirosa e glamourosamente vestida para festa e, num supetão, aparece um forasteiro, lindo de morrer, portando uma cabeleira à la Elvis Presley, olhos verdes, espadaúdo, calças justas, acintosamente usando o próprio cinto largo do Elvis, sai com ela valsando um Danúbio Azul e, de súbito, o filho da p*** do sonoplasta, (DJ de hoje) sabedor que a belíssima donzela era bambambã no rock in roll, estronda um Jailhouse Rock e o gatão, parecendo coisa ensaiada, remedava o Elvis num movimento de pés e meneios de corpo com sublime beleza, e a lindinha, em passes encantadores, levitava como se fada fosse e princesa sendo, olhava furtivamente para nós, os chupa-dedos.

Nossa vingança veio a galope ao chuparmos seu doce sangue com canudinhos transparente quando pedimos ao sonoplasta (DJ, repito) um samba quadradinho, um samba de breque do Moreira da Silva, mais Noel Rosa, Elizeth Cardoso, João Nogueira e o bonitão murchou a orelha ao ler em nossos olhares e carrancas, Grrr…, que havia sido julgado e condenado a levar uma tunda se cometesse a imprudência de ali permanecer, e besta que não era, sumiu na  trevas da noite tenebrosa, noite chispante de raios medonhos e ribombos tonitruantes, pois o sacripanta só dominava uma porqueirinha de nada de rock’in’roll e um nadica de valsa, nada mais e nós, uns vinte ou trinta mosqueteiros da corte, regojizados por salvado a casta princesinha do sinistroso dragão predador das sacerdotisas da deusa Vesta.

Dilson Paiva, jornalista e escritor de notável cultura, alembrou-me a hegemonia do quarteto formado pelos irmãos Roberto, Ronaldo e Renato Correa, mais o amigo Waldir da Anunciação, e o nominaram Golden Boys. Produziram e versaram obras-primas musicais na época da jovem guarda que embalaram nossas noites com suas deslumbrantes canções, como: — Alguém na Multidão, La Bamba, Berimbau, Ai de Mim, Pensando Nela — e mais centenas de outras modulações melífluas, candentes, que ninaram nossas dores de cotovelo, balouçaram nossos corações trespassados por flechas incendiárias advindas de uma desilusão amorosa e hoje, tempos idos, te agradecemos Golden Boys, por deixar que sonhássemos acordados, dançando de rosto coladinho e por receber a alegria espargida pelos seus mágicos hissopes que chegaram ao corajoso lindão que voltou e casou-se com a princesa e felizes estão a bajoujar filhos e netos.

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Alcivando Lima - Opinião Leitor

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