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Especial com Alcivando Lima – TAQUARAS, TABOCAS, TABOAS

“Que tempos são estes que temos que defender o óbvio?” Bertolt Brecht – dramaturgo, poeta e encenador alemão.

Sempre que visito galerias, me deslumbro com as multicoloridas telas de juncos, (taboas, taquaras, bambus) e sempre me surpreendo saber que a maioria medra em terrenos pantanosos, alagadiços, são ocos e se alimentam de lama e detritos e isso nos remete a muitos seres que se nos apresentam lindamente ornados, galantes, loquazes sem se desconfiarem que são análogos aos juncos articulatus, bufonius dentre centenas de outras.

Serviu (hoje ninguém mais liga pra isso) para fazer balaios ou jacás, pari, (armadilha para pegar peixes) cobertura de ranchos, esteiras, etc. e talvez ainda sirva, aqui e ali, como adjutório a um ribeirinho que arrenega um espeto de metal, e está doido pra largar pra lá o pari e se servir de um jiqui confeccionado num metal resistente.

Para muitos, o alargamento de terras para lavouras altamente tecnológicas expulsaram esse povinho do seu meio e alguns chegaram a vestir ou vestem um libré de hotel que lhes tira o ar lúgubre e dá brilho ao embaciado e ele se torna um totem de delicadeza. Outros, com um piparote na testa julgam que um deus os fez para guiar os beócios e, fingindo estima e considerações, devassam o povaréu com um olhar circunspecto e se redundam histriões e se alardeiam tão belos quanto Narciso, Vênus, Adônis, Atena; gerações posteriores fazem-se mestres na maneira obstinada de agir, revestida de uma capa de confraria que lhe confere nobiliarquia; enfunados, apregoam lutar por um mundo melhor e esse mundo caem-lhes no colo por falta de uma voz que o contradiz e escancare o falso benefício para a coletividade e que a medida foi ou será benéfica tão somente para aqueles que lucrarão ad eternum. As pessoas de bem, as pessoas com cérebro, as vezes tentam mudar, renovar esse tipo de coisas e grande parte finaliza-se mais uma linda taquara, uma bela taboca e graciosa taboa que se alimenta de lama e detritos e por tabela, do sangue e vísceras, e se empanturram com louvaminhas expelidas nos templos; os teares dos carolas tecem-lhes hagiologias, os puxa-sacos derramam-lhes apologias, as beatas encalhadas espargem-lhes loas gratuitas, os sem idéias, em delírios, trançam-lhes gabos, hosanas e panegíricos que lhes conferem ares de supra sumo da sabedoria por única, culposa e dolosa omissão das pessoas gradas, pessoas de mentes brilhantes que podem escancarar as ações nefandas desses seres broncos que recrudescem a cada vez que aparecem nas telinhas cuidando dos irracionais como um são Francisco do pé quebrado e não dão a mínima para aquelas criaturinhas humanas de porte mirrado, esquálidas, que ficam a perambular à cata de tudo, conquanto sejam providas de um privilegiado cérebro.

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Alcivando Lima - Opinião Leitor

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