Especial com Alcivando Lima – FOGO-FÁTUO
“Toda interpretação tem um conteúdo político.”
Milton Santos – (Geógrafo)
Estávamos acostumando com o desaparecimento de políticos que fizeram desse país uma mina condescendente e inesgotável que supre a todos aqueles que mamam avidamente nas suas tetas desde eras Cabralinas.
O povo, na sua maioria, cansado de tanta roubalheira e iniquidades, depositou suas esperanças nas propostas dos adversários do então governo corrupto e, vitoriosos, passaram da barrigueira para o arreio, convocando gentes de gabarito, defensores de teses factíveis, instruídos nas mais renomadas e longínquas escolas do planeta.
Durante muito tempo, os agora derrotados, preconizaram que as elites tinham uma ojeriza danada a pobre. Rico não se mistura com pobre nem a porrete. O antropônimo de rico era Washington, Henry ou Noah, dentre outros. Aí vem o pobre e lasca nos seus rebentos o mesmo que os ricos e os ricos se vingam e voltam a ser João, Pedro, Joaquim, João Paulo, Bento, etc.
Ao menor resvalo, uma levíssima triscadinha de nada é o bastante para provocar pápulas urticantes nas delicadas e cheirosas peles das bem nutridas madames.
Enquanto um derrapa feio, entregando de mão-beijada o slogan da (possível) campanha da oposição, o ferraz adversário político vai ao encontro de Sua Santidade, tira mil fotos que vai expor ao povo e discute desigualdade e fome no mundo. Ademais, o encontro foi articulado pelo presidente argentino Alberto Fernandez.
Foi de lascar o cano da botina a infeliz derrapada do nosso ilustre e sábio ministro, (que passou suas férias em Miami) rematando com o fatídico: “Pera aí, empregada doméstica indo pra Disneylândia?” Pois é, agora o adversário virou vítima e a dita situação é sua marqueteira e tem ainda que explicar para a meninada nas escolas que fogo-fátuo, também chamado de fogo corredor ou João-Galafoice, é uma luz azulada proveniente da decomposição orgânica que, quando entra em contato com o oxigênio no ar se inflama espontaneamente, ensejando daí que uma carinha angelical qualquer espete os céus com o dedinho indicador e pergunta: — Aquele foguinho furta-cor que sai das sepulturas é fogo-fátuo, é?
— É… é fogo-fátuo. — responde, brandamente, o professor
— De pobre e de rico, de rei e rainha, de presidente, ministros e governadores? — Insiste a lindinha de trancinhas.
— Sim, de todos eles, viu? — docemente o mestre respondeu, esboçando um sorriso maroto.