Especial com Alcivando Lima – EXCURSÃO AO ESPAÇO
“Desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal. Millôr Fernandes.
Graciosa leitora, garboso leitor.
O furor do bilionário de chapéu atolado na cabeça se dirigindo rumo ao espaço na sua traquitana (que mais me pareceu um falo dito e escrito) me motivou de aludir sobre essa nova onda de prazer para os muito ricos.
Cabeças cintilantes nos mostram como sair do tédio e quão imaginativa é a mente dos bilionários atulhados de bufunfa e bonomia, mesmo que isto dure pouco mais de dez minutos. Pobre carrega perfume (sufocante) numa bombona de vinte litros. Aquele que leva o rico às nuvens tem dez mililitros.
Desembolsar a bagatela de vinte e oito milhões de dólares (cerca de cento e cinqüenta milhões de reais) é façanha para poucos nababos. Grosseiramente comparando, deve cobrir a gastança de uma hora do executivo, legislativo, judiciário e forças armadas do Brasil. Uma mixaria.
Eu e bilhões de seres humanos ficamos extasiados vendo a piloto de 82 anos flutuando e sorrindo delicadamente na cabine da nave. Estupidamente comparando com as palafitas equilibrando, malemá, em torno dos rios, lagos e igarapés em Recife, Manaus é paisagem surrealista.
Minha deslumbrante leitora e meu respeitável leitor dirão que sou uma toupeira em questionar a importância dos programas espaciais que nos dá novas perspectivas tecnológicas e aprendemos mais sobre nosso planeta se redondo é ou plano parece. Abestadamente bato o pé que primeiramente tem que sanar as porcarias aqui na terra, combater a ferro e fogo o coronavirus, miséria, fome.
Não nos causará perplexidade se um diligente parlamentar tupiniquim propuser que 20 de julho seja feriado nacional ou dia santo. Talvez — pelo hercúleo esforço que os bons de grana e os bambambãs da política fazem para o bem da humanidade — se ache um planeta em que ninguém passa fome, não se abusa de crianças e aconchega os velhos.
Fala-se que o Bezos é um tremendo linha dura. Dá o maior esporro no peão ou na peoa que ouse ir ao banheiro. Quer mijar? Mije na garrafinha, pombas! É preciso comer!… Coma depois do expediente, caraio!… Perder tempo é perder dinheiro… e agradece a colaboração de todos pelo apresto na façanha.
Isto não é de arrepiar?
Pandemia? Tá! Tem-se notícia que os bilionários estão tomando nojo de dinheiro pelo tanto que se tem ganhado com a coronavirus. Pouquíssimos morreram ou nenhum morreu. Se morte houve, sentimento lúgubre não.
Este grandioso ponta-pé açula o turismo espacial e seguramente eliminará a platitude que os bilionários carregam em se ter a mulher, homem ou sei lá o que na hora que se quer. Muitos não entendem e querem macular esse nobre gesto das almas de quem quer o bem da humanidade.
Não sou maricas e morro de vontade de ir, sem máscara, ao boteco (ai de mim) da esquina abraçar velhos amigos, mas meu suposto estoicismo é atropelado por um trem e recrudesce a expressão de acabrunhamento ao sentir o bafio pestilento do coronavirus19 me intubando, me trajando com indumentárias e capacete de astronauta e, aos tiquinhos, devagarinho, vai deslocando um dos meus pés pra uma cova.