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Especial com Alcivando Lima – ESTOU PREOCUPADO

“Quanto menos neurônios ativos mais pose de inteligência vasta” – (Brasigóis Felício – Escritor/jornalista)

— Me preocupa a formação deles, muito novinhos. Talvez, e por causa disso, chacoalha a cabecinha.

— Ué, o que pode influenciar negativamente esta fortaleza inexpugnável que está na luta desde as guerras púnicas e não se dobra nem que a vaca tussa?

— O sobressalto que abala ou fascina, martela e reverbera lugubremente, assombrando corações e mentes que tem tendências conflitantes com quem rompe o elo dos valores tradicionais. Preocupado com meus netinhos e netinhas. Eles viram e todo mundo viu o casal na TV, um homem parrudo e uma mulher — muito bonita, a danada — toda pudicícia, mas atarracada, com uns braços prontos a distribuir pescoção a torto e a direita, e eu cá pressupondo seu corpão de fisiculturista se firmando numas pernas, coxas e tórax de músculos hipertrofiados. Estavam se casando. Até aí coisa corriqueira, arroz com feijão, macarrão com queijo ralado ou um franguinho com quiabo e angu. O inusitado, o insólito, foi a quebra do rito conubial. Nubentes e padrinhos segurando armas de fogo como se fossem velas, círios sagrados com a noiva substituindo o tradicional buquê de flores — amuleto, troféu disputadíssimo contra encalhamento por aquelas que morrem de medo de ir pro caritó — por um trabuco desse tamanho e minha cismada imaginação foi ventando ver se o celebrante esconde um bacamarte sob as vestes sacerdotais. Acho que não tinha. Tinha? Parem o avião, quero descer.

Antes que aqueles que vivem contemplando o próprio umbigo taxar de estrambótica a solenidade, assoprando brasas dizendo que os protagonistas deixaram-se influenciar por apologistas às armas ou que afiançam ser auto-afirmação de homem do bilau pequeno ou de franchona destrambelhada que adora inocentes mocorongos à cata de autógrafos, é bom saber que os noivos justificaram, tim por tim tim, o avesso da celebração a que estamos carecas de testemunhar com o seguinte argumento: São altamente qualificados no ramo da segurança pública e privada, com especialização em Washington, Pequim, Moscou e Telavive e que o armamento exposto é uma mixaria diante do portentoso arsenal amoitado e, portanto, nada mais natural homenagear a profissão e seus expertises exibirem uma fração das suas ferramentas de trabalho. Tamos entendidos?

— De que está rindo? Disse alguma coisa boboca?

— Não, nada disso. Tome uma talagada dessa cagibrina aqui pra calibrar esses nervos. Tenho um casal de amigos que são atores pornôs, amam-se loucamente e vão se casar e eu, bestamente, garrei a pensar no rame-rame da cerimônia nupcial deles. Só isso!… Entendeu?

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Alcivando Lima - Opinião Leitor

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