Especial com Alcivando Lima – NA ÚLTIMA HORA ENVIO UM PREPOSTO
O cão não ladrão por valentia e sim por medo. Provérbio Chinês (O Pensador).
— Mexe e vira ele quer entortar a cara dum no tapa. Mania besta.
— Falando sozinho?
— Não, pensando em voz alta.
— Quem é o brabo acostumado a esbodegar caras lindas?
— Meu chefe! Grandalhão, olhar fuzilante, desprovido de QI prodigioso e sem estilo. Diz um monte de asneira e quem dele discordar é comunista, fica beiçudo por nada, é pirracento e à toinha te convida pra sair na porrada, além de xingar a gente de bostinha.
— Isso não é bom! Vós sois pitititinho, num tem caixa torácica, nem braços e pernas robustas. Ademais, é preciso ter um isso de admiração dos outros, portar um possante canga-pé pra soltar no pau da venta do adversário, ser dono de um velocíssimo rabo-de-arraia e saber desfechar uma mugangada no queixo do oponente é crucial para, rapidamente, por fim à peleja. Numa confrontação é preciso ter gingado, treta psicológica pra mirar o calcanhar de Aquiles do contendor. Nos anais de vossa senhoria não há assento nenhum. Aliás, corre solto um maldoso comentário de que, num socavão nos arredores da cidade no nortão do país, a famosa Toca da Onça, havia um entra e sai de frangotes e você era o último sair e saía numa preguiçosa languidez de mulher possuída, carinha esvanecida, fronte suadinha, bochecha rechonchudinha que toda hora tinha alguém dando uma apertadinha e, por ser muito delicado e ter um timbre de voz esganiçada, carregava o apelido de Mimosa, Botão de Veludo, etc. O povo é mau, muito mau, meu caro amigo. Então, aconselho-o a não ir pro confronto, viu? Pode levar uma tunda de criar bicho, de se ter que banhar na água alcanforada e terás noites mal dormidas, sobressaltos e sonhos perturbadores, vai não!
— Não, bicho! Quero ir, não! Pressinto borrasca quando nos entreolhamos. É chato saber que a tônica do seu discurso é sobre o tamanho da minha pessoinha, mas ninguém tem coragem de cutucar suas costelas lembrando-lhe que o marechal Castelo Branco, Santos Dumont, Rui Barbosa, dentre outros, eram piquititos. Me esculacha dizendo que estou isento da obrigação de ser homem, e essa abnormalidade deixa o oritimbó numa insignificante lonjura da cavidade bucal ou vice e versa, donde se faz exalar um bafo de tábua de chiqueiro capaz de enxotar até o diabo do coronavirus. Isso é fubecar a vida da gente, cara, p… que pariu!
— É, nossa pobre ciência não deu conta, ainda, de clonar gente como a gente pra tu mandar outro baixim pagar o pato. Num possível e real desafio para uma pugna, uma refrega, uma escaramuça, o jeito é peitá-lo com os recursos que tens à mão, isto é: a carinha de lua cheia e perninhas pra correr.
De repente se abriu num sorriso idiotizado de quem tomou vacina ou daquele que está doidinho pra ver a gente virar jacaré, estalou os dedos e exclamou — Já sei como me livrar das dores deste mundo distópico: A lei facultando, vou me servir dela: Na última hora envio um preposto! — Uma gostosa gargalhada ressoou trombeteira para um sol caminhando mole-mole para os lados do poente.